Prezado(a) candidato(a),
Cresce o número de animais de estimação, nos lares
brasileiros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), coletados em 2013, de cada
cem famílias, 44 criam, por exemplo, cachorros. Profissionais
de saúde, como psicólogos, sublinham, por exemplo, a
importância da convivência com animais para a saúde
emocional, porque, entre outras coisas, essa convivência
ajuda na socialização, no combate ao sedentarismo etc. É
importante atentar para os cuidados que esses animais
demandam e, consequentemente, os gastos acarretados por
esses cuidados. Nesta prova de redação, você escreverá
sobre a implantação de políticas públicas para o cuidado
com os animais de estimação bem como sobre o problema
dos maus-tratos e do abandono de animais. Tomando por
base seus conhecimentos sobre a temática, bem como os
dois textos motivadores desta prova, escolha UMA das
propostas a seguir e componha seu texto.
Proposta 1
No dia 4 de outubro, celebra-se o Dia Mundial dos Animais.
O curso de Medicina Veterinária da UECE incluiu a data
entre as comemorações de seus 60 anos e abriu inscrições
para a seleção de textos que comporão a coletânea “A vida
dos animais de estimação no Estado do Ceará” a ser lançada
no ano de 2023. O material será composto por textos
escritos por diversas personalidades da sociedade civil, entre
elas, um aluno ou aluna, que representará os estudantes
nessa publicação. Você foi convidado para fazer parte da
coletânea. Para isso, escreva um artigo de opinião, na
modalidade escrita formal da língua portuguesa, sobre “A
importância de políticas públicas para os direitos dos
animais de estimação no estado do Ceará”.
Proposta 2
Você irá participar de um concurso para selecionar os
melhores textos que comporão o livro “Sou animal e tenho
sentimentos”, a ser lançado pela Faculdade de Veterinária
(FAVET) da UECE. Imagine, então, que você é um animal que
foi abandonado e escreva, em uma página de diário, um
relato sobre como você se sentiu vivendo nessa condição.
Não esqueça de que esse texto deve ser escrito na
modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Texto 1
Cresce o número de adoções e de abandono de animais na
pandemia
Os animais não são objetos, eles necessitam de atenção e
cuidados, por isso o processo de adoção de um pet deve ser
feito com responsabilidade, jamais por impulso.
Dados da Uipa — União Internacional Protetora dos Animais
— mostram que aumentou em 400% a procura de animais
para adoção. Isso é um reflexo da pandemia, que fez com
que as pessoas ficassem mais reclusas em suas residências.
No entanto, esse entusiasmo inicial muitas vezes não faz
com que as pessoas reflitam sobre a responsabilidade que é
adotar ou comprar um animal. Com isso, é grande o
abandono, o que só contribui para a elevação do número de
animais nos abrigos.
A professora Patrícia Faga Iglecias Lemos, do
Departamento de Direito Civil da Faculdade de Direito da
USP, com pesquisa na área de Direito Ambiental e diretora
presidente da Cetesb — Companhia Ambiental do Estado de
São Paulo, lembra que “nós temos a Lei de Crimes
Ambientais 9605/98, que prevê, em seu artigo 32, a questão
do ato de abuso, maus-tratos, ferir, mutilar animais
silvestres, domésticos, nativos ou exóticos. Essa legislação
foi alterada e, com a lei 1095/19, aumentou a punição, que
antes era de três meses a um ano, com multa e proibição de
guarda, para dois a cinco anos de reclusão.” O Estado de São
Paulo conta com uma Delegacia Eletrônica de Proteção
Animal e a denúncia pode ser feita via internet. Qualquer
tipo de prova pode ser utilizada na identificação de quem
comete o abuso. Servem fotos, vídeos, uma identificação do
local e endereço. A professora Patrícia lembra que há uma
cartilha para denúncias do Ministério Público que pode ser
acessada pela internet.
A questão legal não é a única situação a ser pensada
na adoção de um cão ou gato. A professora Deise Dellova,
chefe do Hospital Veterinário de Pequenos Animais da
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP
de Pirassununga, lembra que é preciso ter muita
consciência, não agir por impulso, para não se arrepender
depois, pois há vários fatores envolvidos nesse processo. “O
animal não é um objeto, ele precisa de cuidados e atenção
e, quando isso se tornou um peso, a solução foi devolver ao
abrigo de animais ou soltar nas ruas. Os animais necessitam
de cuidados diários e atenção, devem receber alimentação
adequada, serem levados ao veterinário, receberem
vacinação anual e castração. O planejamento deve incluir
tempo para socializar com o animal, brincar, passear e
ensinar. Os custos podem ser adaptados à situação
financeira do tutor.”
Dados da Organização Mundial da Saúde apontam
que, no Brasil, existem cerca de 30 milhões de animais
abandonados; desse total, 10 milhões são gatos, e 20
milhões, cachorros. Os traumas de um abandono deixam
várias cicatrizes na vida de um pet, muitas vezes é
necessário a ajuda de um veterinário ou adestrador para
reverter esse quadro.
Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/cresce-o-numero-
de-adocoes-e-de-abandono-de-animais-na-pandemia/
Texto 2
A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha
emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas
avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras
supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da
boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a
bebida.
Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com
um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um
rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre
de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no
mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as
orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na
base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de
cascavel.
Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a
espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-
trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não
sofrer muito.
Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os
meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se
cansavam de repetir a mesma pergunta: — Vão bulir com a
Baleia?
Tinham visto o cnumbeiro e o polvarinho, os modos
de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes a suspeita de que
Baleia corria perigo.
Ela era como uma pessoa da família: brincavam
juntos os três, para bem dizer não se diferençavam,
rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo,
ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas
Sinhá Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e
esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos, prendeu a cabeça do
mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas
do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e
tratou de subjugá-los, resmungando com energia.
Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-
se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e
justa. Pobre da Baleia.
Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se
derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta
na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia.
Os meninos começaram a gritar e a espernear. E
como Sinhá Vitória tinha relaxado os músculos, deixou
escapar o mais taludo e soltou uma praga: — Capeta
excomungado.
Na luta que travou para segurar de novo o filho
rebelde, zangou-se de verdade. Safadinho. Atirou um
cocorote ao crânio enrolado na coberta vermelha e na saia
de ramagens.
Pouco a pouco a cólera diminuiu, e Sinhá Vitória,
embalando as crianças, enjoou-se da cadela achacada,
gargarejou muxoxos e nomes feios. Bicho nojento, babão.
Inconveniência deixar cachorro doido solto em casa. Mas
compreendia que estava sendo severa demais, achava difícil
Baleia endoidecer e lamentava que o marido não houvesse
esperado mais um dia para ver se realmente a execução era
indispensável [...].
RAMOS, GRACILIANO. Vidas Secas. São Paulo: FTD, p. 40.